Bondinho em São Paulo, 1963. |
@lecysousa
Posicionar-se contra o avanço tecnológico, no atual estágio da “evolução” humana, é uma espécie de romantismo que gostamos de nutrir. Tal e como querer a continuidade dos bondinhos (que não servirão nem para um mundo pós-apocalíptico, mas eram elétricos e pós-modernos).
Entramos no terceiro ano da década de 20, do Século XXI, e uma das supostas novidades é um robô assistente chamado chatGPT. Em síntese, esse “aplicativo” é uma espécie de “Alexa” mais funcional do ponto de vista “acadêmico” por ser capaz de “bolar” documentos, poesias e textos filosóficos deixando a criatividade humana livre para reality shows, futebol e fofocas sobre a vida dos “famosos”. A quantidade de aspas usadas nesse parágrafo revela as múltiplas funcionalidades que um sinal gráfico pode ter. Difícil saber se chatGPT consegue capturar esse nível de sutileza.
Algo que provocou
em mim um pouco mais de indignação foi uma notícia sobre a forma como o chatGPT
foi “alimentado” para servir os comensais. Uma investigação conduzida pela
revista TIME constatou que trabalhadores quenianos (nativos do Quênia)
receberam menos de 2 dólares para “treinarem” a IA do chatGPT. Eles também
concordaram com a exposição a filmes e vídeos de violência cujo propósito foi o
aperfeiçoamento do “bebezinho”. Eu até me lembrei do filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick (1971).
É incrível como o modelo de colonialismo para a servidão humana nunca teve fim. Esse modelo remonta à pré-história (o mais forte sempre subjuga o mais fraco pela força, pela chantagem e também pelo dinheiro) e desemboca em casos como o da Amazon, que forçou seus trabalhadores a urinarem em garrafas para darem conta da demanda no apogeu da empresa (fato admitido pelo próprio Jeff Bezos).
Não sou contra a evolução tecnológica, mas ao aspecto de sombra que a acompanha. A empresa Boston Dynamics, por exemplo, faz desde robôs fofos que dançam “Thriller” de Michael Jackson até cães adaptados com fuzis que raramente erram o alvo.
Por enquanto, jornalistas e estudantes empolgados fazem uso do chatGPT como quem brinca e dá risadas com um bebê inofensivo e gute-gute. É exatamente isso que a IA “deseja”: cativar para subjugar e imperar. O modus operandi tipicamente humano.
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Links de sites e/ou blogs consultados para a elaboração desse texto:
História Mundi: Os bondes na cidade de São Paulo (histormundi.blogspot.com)
https://www.terra.com.br/byte/estao-pasmos-com-o-chatgpt-a-ia-que-conversa,0b15e4de2f832513ee63602588c797befxid37z3.html