sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A luta da voz virtual

©Lecy Pereira Sousa

Gosto do trabalho da Comunidade Avaaz, movimento iniciado no cenário europeu em 2007 que busca mobilizar pessoas no mundo inteiro em favor soluções políticas e sociais que a maioria dessas pessoas desejam longe da burocracia dos gabinetes climatizados.

É um trabalho romântico em sua essência. Lembra-me algo que não vivi entre a Idade Média e a Revolução Francesa. Lembra-me, ainda, a esperança convicta dos Inconfidentes mineiros que acabou em degredo para os que sobreviveram.

Vivemos um tempo diferente? A impressão é a de que vivemos dopados na expectativa de uma paz perene na qual, simplesmente, o atual sistema de coisas não está minimamente interessado. Seríamos uma espécie de utópicos distópicos?




A Avaaz insufla em nós uma esperança virtual de idealismo revolucionário, ou seja, uma esperança que passa pelo e-mail e pelas Redes Sociais, uma esperança de que os problemas sócio-políticos da humanidade podem ser dissipados pelo clique de nossos dedos sobre um mouse ou sobre uma tela touchscreen. É inegável que algumas conquistas reais devem-se a essa iniciativa que mobiliza 10 milhões de pessoas e  se faz presente em 193 países sem onerar cofres públicos com folha de pagamento ou necessidade de aprovação no “Orçamento da União”.

A grande interrogação paira sobre as questões culturais de um povo para aceitar de forma emancipada mudanças de hábitos específicos de tribos sociais.

A  Avaaz é nossa revolução hi-tech onde no conforto dos nossos sofás ou cadeiras com rodinhas, diria o jornalista Arnaldo Jabor, não nos ferimos, não sacamos espadas, facas de cozinha, machados ou carabinas e nos sentimos vingados com um clique.

Desde os tempos descarados da Guerra Fria onde o foco do resto do mundo era obrigado a ficar direcionado para os líderes cachaceiros(ops, vodckeiros) da Rússia e os presidentes-atores americanos(alguém disse que escrever “norte-americano” é uma ignorância) vivíamos sob a chantagem de um clique. Corria a história de que o homem forte dos EUA vivia com uma maleta algemada em seu braço e diante de qualquer ameaça mais incisiva poderia, com um clique, direcionar mísseis letais ou mortais (que importa os adjetivos?) para qualquer lugar do mundo, bem ao estilo dos desenhos animados.

Os tempos são outros. O pensamento científico voltou suas lentes para a Física Quântica e olhando para trás, as sociedades ocidentais parecem sentir uma vergonha política do derramamento de sangue “inocente” que promoveram em troca de monumentos ao soldado desconhecido e celebrações históricas em memória dos milhões de pessoas que morreram assassinadas pela birra psicopata de líderes intransigentes. Hoje, desafetos são eliminados com aviõezinhos teleguiados. A vingança se tornou asséptica e específica.

O trabalho da Avaaz merece um Nobel por seu idealismo e busca de soluções pacíficas para micro e macro problemas sóciopolítico-ambientais. Havemos de lembrar que os problemas antropológicos de cada “nação” revelam-se uma bomba particular que, não raro, detonam guerras civis, ainda que sobre elas sobrevoe a mesma pomba da paz.

Porém, contudo, todavia, diz o provérbio Português: “A esperança é a última que morre”.

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