sábado, 4 de abril de 2009

Ordinário do Encanto



Ordinário do Encanto 

©Lecy Pereira Sousa


 

Dez poemas não satisfazem o arquiteto do encanto;

Nove poemas não são sinônimos de perfeição;

Oito poemas são insuficientes para criarem um super-herói;

Sete vezes sete poemas não são passaportes para Shangri-lá;

Seis poemas são poucos para domarem o caos urbano;

Cinco poemas cantarolados não aplacarão o desejo

de vingança de dois corações;

Quatro poemas não garantem uma noite de xeique ou sultão;

Três poemas não comprarão o romance da vida inteira;

Dois poemas não acabarão com o poder da águia

sobre o mundo;

Um poema não encherá a barriga de ninguém. 
 
Zero hora - Zero minuto - Zero segundo.
 

 



quinta-feira, 26 de março de 2009

Vídeo Clip



VÍDEO CLIP
 

Por Lecy Pereira Sousa
 

UMA CONOTAÇÃO DOS IRMÃOS LUMIÈRE

VOANDO NAS ASAS SONORAS DO ARTISTA

COMO UM TURBILHÃO DE POSSIBILIDADES

DE EMOÇÕES SUPERPOSTAS SUGERIDAS

EM POUCOS SEGUNDOS COMO UMA ERUPÇÃO

ESTÉTICA PARA O DELEITE DOS OLHOS NUMA

ALUCINADA VANGUARDA  FEITA APOTEOSE DA

IMAGINAÇÃO TAL FRAGMENTO EXCITADO

DE UM OLHO ANIMADO. 

 


segunda-feira, 2 de março de 2009

Veludo



Veludo

 © Lecy Pereira Sousa

[Queremos mais!] 

Como cães de aluguel

a nossa pátria é um escarcéu 

Tecido Veludo! 

É preciso mãos de sedas

Suportar asperezas 

Tecido Veludo! 

Seja cidadão

Siga as instruções:

Capítulo um

Parágrafo quatro

Versículo três

Atitude trinta e três 

Lindos e famintos! 

Poetas parece sempre

dizerem nada

a grande experiência

reside na estrada 

Isso não é tudo! 

[Queremos mais!]   

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Sobre ou sob a condição humana dos poetas

 

 By Lecy Pereira Sousa

Desde tenra idade muito me perguntava se poetas e romancistas existiam em carne e osso.

 

Ficava-me a dúvida se eles redigiam um livro, publicavam para que a massa leiga comprasse e depois retornavam ao plano etéreo onde viviam sem saber o que é sentir vontade de urinar ou aliviar o portal de saída do intestino, algo assim como o Cristo ressuscitado pintado por J J Benitez em "Operação Cavalo de Tróia".

 

A medida em que minha ignorância acerca do comportamento humano foi diminuindo e a idealização romântica foi montando num jegue passei a entender que há escritores que gostam de convivência social e há outros que não suportam o público. Também há aqueles que só se comunicam com pessoas que têm sua mesma formação escolástica e condenam aos infernos aqueles que estão no seguimento social inferior. Eu pensava que a idéia preconceituosa de castas só imperava na Índia. Depois descobri que alguns escritores fantásticos são tão preconceituosos quanto eu posso ser relativamente a determinados temas.

 

Há poucos dias recebi a ligação telefônica de um jovem que deseja seguir a "carreira" de poeta. Como é do meu feitio fui logo lhe atendendo de forma descontraída. Ele ficou surpreso porque em seu imaginário todos escritores são pessoas incrivelmente mau humoradas e indispostas para dialogarem com pessoas que não são do seu convívio. Ele também disse que tentou se comunicar com poetas ditos consagrados e nenhum deles sequer respondeu ao e-mail ou seja lá qual outro meio de comunicação utilizara.

 

Tudo bem que o anonimato é assegurado por lei. Ninguém é obrigado a reportar ao contato de ninguém se não for da sua vontade própria. Porém, o silêncio de um poeta ou seu comportamento arredio pode afastar um jovem promissor do caminho das letras, até porque algumas pessoas costumam julgar a parte pelo todo. De alguma forma eu joguei a idealização do rapaz por água abaixo. Onde ele esperava encontrar um encastelado, achou um embarracado. Onde ele esperava encontrar um metido a sábio, achou um metido a besta. Onde ele esperava encontrar um semideus, achou um homem comum, um anti-herói, um sujeito que escreve seus textos a revelia do deslumbramento. A esse rapaz que cedo ou tarde terá que confrontar a si mesmo acerca do que deseja como ideal de vida entreguei algumas publicações de jornais e de outros poetas. Ainda lhe disse que o mundo literário é assim mesmo :repleto de leituras silenciosas e que muitas vezes esse silêncio pode revelar um esnobismo estrábico ou uma refinada deselegância.

Enfim, eu disse ao rapaz que tomasse sua cruz e seguisse o caminho com uma pedra no meio como cita um óraculo poético. Ele deixou comigo uma pasta contendo poemas que, segundo o mesmo, não conseguiu inscrever num concurso estadual por mero problema burocrático. Assim começam os desafios.