Sinto que nunca fui feliz...
Ao escritor Lecy Pereira Sousa
Sinto que nunca fui feliz,
E isso me fez acordar assustado.
Da infância, quando lembro, vejo que em nada me agarrei,
E esse desapego, pela vida afora, me conduz os passos.
Amei pessoas e paisagens e quis um amigo,
E vieram candidatos, dos quais desconfiei os atos,
Mas, como me policio, quando vacilo, me retrato.
Oh, minha infância, a tenho nos meus abismos,
Olá seu Artur, dona Olíria, Virgílio, Jubinha, meu irmão,
Não poderia deixar de ter vocês em mim.
Não só sei o passado importante,
Como o sinto presente, e fundamental pai e mãe.
Minha gata siamesa, dez anos comigo, extraviada,
Amigos de bairro, dispersos, mas logo ali, no mapa.
Sinto a vida de adulto como uma vida falsa, o trabalho como artificial, desalmado e bruto.
Não consigo conceber alguém que goste da profissão, profissões não foram feitas para que se gostem delas,
Como se gosta de pessoas, mas para nos alienar de nós mesmos, para nos botar numa busca de ficção
Que é o dinheiro...
Sou impunemente só, desesperadamente estranho às pessoas, embora as deseje febrilmente,
[pornograficamente.
Sinto que nunca fui feliz,
E isso me fez acordar assustado;
Mas na minha vidinha, quantas possibilidades concebo,
Quanta energia e criação da minha desventura!
Não, não podia ser feliz como um passarinho,
Pois nasci e vivi numa paisagem acinzentada.
Mas não sou mal, nem amargo, nem avarento,
E vejo no feio asfalto uma beleza tosta, urbana,
E nas luzes dos postes figuras de Michelangelo.
Ali minha bicicleta, fiel companheira!
Seu som é a música de um novo tempo,
Onde panfleto, como formiga, o afeto,
Onde erro, como a vida, a poesia verdadeira!
(Contagemtown, abril de 2008)
__________________________
Vinícius Fernandes Cardoso, Fundador da Academia Contagense de Letras e Cientista Social em formação pela UFMG.
O poema "Sinto que nunca foi feliz..." integra o livro "Nômade – Ensaios, Resenhas e Versos" recém-publicado pelo autor.
Os internautas interessados em adquirir esse trabalho podem enviar e-mail para viniciusfcardoso@bol.com.br
Ao escritor Lecy Pereira Sousa
Sinto que nunca fui feliz,
E isso me fez acordar assustado.
Da infância, quando lembro, vejo que em nada me agarrei,
E esse desapego, pela vida afora, me conduz os passos.
Amei pessoas e paisagens e quis um amigo,
E vieram candidatos, dos quais desconfiei os atos,
Mas, como me policio, quando vacilo, me retrato.
Oh, minha infância, a tenho nos meus abismos,
Olá seu Artur, dona Olíria, Virgílio, Jubinha, meu irmão,
Não poderia deixar de ter vocês em mim.
Não só sei o passado importante,
Como o sinto presente, e fundamental pai e mãe.
Minha gata siamesa, dez anos comigo, extraviada,
Amigos de bairro, dispersos, mas logo ali, no mapa.
Sinto a vida de adulto como uma vida falsa, o trabalho como artificial, desalmado e bruto.
Não consigo conceber alguém que goste da profissão, profissões não foram feitas para que se gostem delas,
Como se gosta de pessoas, mas para nos alienar de nós mesmos, para nos botar numa busca de ficção
Que é o dinheiro...
Sou impunemente só, desesperadamente estranho às pessoas, embora as deseje febrilmente,
[pornograficamente.
Sinto que nunca fui feliz,
E isso me fez acordar assustado;
Mas na minha vidinha, quantas possibilidades concebo,
Quanta energia e criação da minha desventura!
Não, não podia ser feliz como um passarinho,
Pois nasci e vivi numa paisagem acinzentada.
Mas não sou mal, nem amargo, nem avarento,
E vejo no feio asfalto uma beleza tosta, urbana,
E nas luzes dos postes figuras de Michelangelo.
Ali minha bicicleta, fiel companheira!
Seu som é a música de um novo tempo,
Onde panfleto, como formiga, o afeto,
Onde erro, como a vida, a poesia verdadeira!
(Contagemtown, abril de 2008)
__________________________
Vinícius Fernandes Cardoso, Fundador da Academia Contagense de Letras e Cientista Social em formação pela UFMG.
O poema "Sinto que nunca foi feliz..." integra o livro "Nômade – Ensaios, Resenhas e Versos" recém-publicado pelo autor.
Os internautas interessados em adquirir esse trabalho podem enviar e-mail para viniciusfcardoso@bol.com.br
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