Quinto e último ateliê aberto do projeto A gente é muita gente acontece com roda de conversa no bairro Santa Tereza
Quinto e último ateliê aberto do projeto A gente é muita gente acontece com roda de conversa no bairro Santa Tereza
No dia 5 de abril, a artista Luciana Brandão, que se apresenta por Ciana, abre as portas de seu ateliê no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte, para o quinto e último encontro do projeto A gente é muita gente. O evento contará com uma roda de conversa entre Ciana, o historiador Davi Aroeira, o artista Paulo Nazareth e o curadores Leonardo Alves e Flaviana Lasan, além de música ao vivo. O ateliê aberto encerra a fase de compartilhamento do processo criativo com o público antes da exposição, que acontece no segundo semestre.
O projeto, fomentado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura (LMIC), parte de uma investigação artística e histórica que busca reconstruir camadas de ancestralidade e identidade. Ciana trabalha com pintura em vidro, técnica que desenvolve há anos e que combina tinta gráfica e tinta a óleo sobre vidro, inspirada por sua formação em litogravura, serigrafia, gravura em metal e pintura. Sua pesquisa parte da ausência de registros sobre sua ancestralidade afro-indígena materna e da necessidade de reconstruir essa história por meio de documentos, relatos orais e encontros com comunidades indígenas.
“A gente é muita gente nasceu como uma investigação sobre a pintura em vidro e se expandiu para uma reflexão mais profunda sobre identidade e ancestralidade. Venho pesquisando documentos históricos, relatos orais, fotografias e também ritualísticas sagradas, buscando entender como a história da minha família se insere dentro de uma história maior: a do Brasil, a do apagamento sistemático das populações indígenas e negras. Essa ausência de informação sobre minha origem é um exemplo que reflete um projeto político que moldou nossa sociedade. E, ao olhar para isso através da arte, me permito criar, especular, imaginar, conectar histórias que foram silenciadas”, explica Ciana Brandão. “Pintar retratos nesta técnica de pintura no vidro gera imagens um tanto quanto turvas e com um movimento orgânico da tinta numa superfície invisível, suspensa no tempo… É como penso sobre a falta de memória em algo tão íntimo, quanto à origem de alguém. ”", completa.
A pesquisa conduzida pela artista se desdobra na ideia de auto-retratação, conceito que vai além do autorretrato. Para Ciana, trata-se de um processo de se enxergar, cuidar e ressignificar sua própria imagem e trajetória. O projeto também dialoga com a cosmologia dos Guarani-Mbyá, povo originário com o qual Ciana se conectou durante sua pesquisa, buscando entender não apenas sua possível ascendência, mas também novas maneiras de perceber o mundo e construir narrativas.
“A ancestralidade é um rizoma, não tem um único caminho. Cada encruzilhada leva a novas possibilidades. E, no meu caso, a busca pelas mulheres da minha família me conduziu à ideia da mitocôndria como metáfora: essa organela que é quem produz energia de todas nossas células e é transmitida exclusivamente pela linha genética materna. A ideia de que quem nos transmite a capacidade de produzir energia vem da mãe, da mãe, da mãe… infinitamente. São sete gerações conectadas por esse mesmo código genético. A pintura em vidro se tornou minha forma de visualizar esse elo invisível”, conta a artista.
Abertura do processo e diálogo com o público
Desde o início da pesquisa, Ciana tem compartilhado seu processo com o público através de ateliês abertos, nos quais apresenta suas criações em desenvolvimento e abre espaço para troca e diálogo. O último encontro, no dia 5 de abril, será um momento de convergência dessas trocas, reunindo não apenas os trabalhos produzidos, mas também o olhar crítico de convidados que acompanharam essa trajetória.
O evento contará com a presença do historiador Davi Aroeira, do artista Paulo Nazareth e dos curadores Flaviana Lasan e Leonardo Alves, que contribuirão para o debate trazendo suas perspectivas sobre arte, ancestralidade e memória.
O encontro será também uma oportunidade para celebrar a potência desse processo criativo dividido coletivamente , com música ao vivo no quintal do ateliê, localizado em uma casa histórica de Santa Teresa. Com isso, Ciana reafirma sua intenção de aproximar a arte do cotidiano, promovendo encontros que transcendem o espaço expositivo tradicional e transformam o ateliê em um local vivo de troca e criação.
Serviço
Data: 5 de abril de 2025
Local: Ateliê de Ciana Brandão – Rua São Gotardo 126,Santa Tereza, Belo Horizonte
Horário: A partir das 14h
Roda de conversa: 17h
O evento é gratuito e aberto ao público.
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