Mostra fica em cartaz na
GAL até 13/07
Com curadoria de Marina Romano (texto
curatorial abaixo), a mostra apresenta uma seleção de trabalhos recentes em
pintura, desenho e colagem, além de uma obra site-specific.
"O ponto de partida foi uma experiência
de grande ventania que vivenciei em Belo Horizonte, enquanto caminhava pelas
ruas do centro. Fui surpreendida por uma forte corrente de vento que, num
instante, levantou muita poeira e outros fragmentos invisíveis ao olhar
acostumado de quem passa por ali no dia a dia. De repente, tudo estava suspenso
no ar, girando, eu mal conseguia manter os olhos abertos. Não durou muito
tempo, mas depois daquele instante nada estava mais como antes. Um giro, é o
que pretendo mostrar na galeria através de fragmentos coletados durante
caminhadas no hipercentro de BH, em composição com trabalhos feitos em ateliê e
fragmentos do próprio ateliê" conta Fernanda.
"Num Instante" pretende refletir a
força e delicadeza daquele momento, tornando visíveis elementos antes
imperceptíveis e como a fugacidade de um instante pode mudar toda nossa
percepção do mundo.
Sobre Fernanda Gontijo
Artista visual e designer gráfica, tem se
dedicado à pesquisa e ao fazer artístico com interesse especial pelo resto como
potência poética e matéria de criação e as relações entre palavra e imagem.
Através do desenho, da colagem, da pintura e da fotografia, explora diversas
materialidades e texturas, incorporando fragmentos do seu cotidiano e da
paisagem urbana, investigando a natureza experimental construtiva do processo
criativo.
É formada em Comunicação Social, pós-graduada
em Processos Criativos em Palavra e Imagem e em Artes Plásticas e
Contemporaneidade pela Escola Guignard (UEMG). Em 2020 sua pesquisa foi
contemplada pela Lei Aldir Blanc do Governo do Estado de Minas Gerais.
Apresentou a exposição individual “Quando o tempo para e cai para todos os lados”,
em 2021, no Café com Letras (BH/MG). Participou da mostra coletiva “Temporada
de Verão”, na Casa Gal, e apresentou a exposição individual “Vejo os Meus
Próprios Olhos” em 2022, também na Casa Gal (BH/MG). Em 2023 participou da
exposição coletiva “Cultivando Incertezas” na Galeria da Escola Guignard.
Serviço
Exposição "Num Instante" de
Fernanda Gontijo
Local: GAL - Rua Groenlândia, 50 - Sion
Encerramento: 13/07 (sábado)
Horário de visitação:
terça a sexta-feira: 14h - 18h30 /
Sábado 10h - 14h
visitas em outros horários disponíveis sob
agendamento
Tel/ WhatsApp: 31 9370-8998
Entrada Franca
Texto curatorial - Marina Romano
“A recriação do mundo é um evento possível o
tempo inteiro.”
Ailton Krenak
A potência de vida da ação tem o efeito de
movimento constante – subitamente, uma eventual reviravolta pode perturbar a
norma e alterar tudo aquilo que era conhecido. Bastou um instante para que uma
ventania repentina levasse pelos ares as coisas que estavam no chão, inertes.
Fernanda Gontijo recorda esse episódio, vivido em uma de suas caminhadas pela
cidade. Quando pousaram, depois de girarem em redemoinho, os vestígios da
vegetação, de pessoas e das construções voltaram para o solo em outra organização,
como novos rastros.
O momento de suspensão no ar é carregado de
incerteza e reflete a experiência da vida no mundo, em sua condição efêmera e
instável. Para enxergar esse breve retrato em uma espiral de vento na rua, é
preciso a prática de uma atenção sensível à simplicidade do cotidiano. Num
Instante apresenta os trabalhos como produtos da atenção inequívoca à aparente
banalidade dos fragmentos de matéria no espaço urbano.
Em sua obra, a artista constrói imagens com a
intenção de criar corpos para existir no mundo, manifestando sua própria
existência impermanente. Para fazer isso, versada nos modos da colagem, costuma
misturar uma variedade de materiais, abordando o papel, o tecido e a tela com
canetas, lápis, spray, nanquim, acrílica, guache e o que mais encontrar no
ateliê, de pedaços de fita-crepe usada a cascas de parede. Com cuidado,
recoloca os objetos e suas histórias pregressas em novos contextos, um
procedimento que usa o próprio corpo como um ponto na trajetória de vida de
outro.
A pintura traz esse gesto, imprimindo no
campo pictórico o resultado, em escala real, do percurso das pernas e braços
pelas ruas. E, por onde se olha, a presença da cor é quase espontânea, em
composições suaves e equilibradas, como registros de uma memória agradável da
paisagem. Em um dos trabalhos, o lençol que amparava o repouso, vai para o
ateliê e vira território da ação. Em outro, o papel que sai da mesa para o
chão, apoiando os impulsos de um corpo que dança. Tudo está em movimento.
Para Fernanda Gontijo, o hábito de incorporar
à obra aquilo que é da ordem do comum, sem esconder o erro e a imperfeição,
parte do desejo de poder existir de forma mais verdadeira, ainda que pouco
articulada. Nesse sentido, as caminhadas trazidas em relatos visuais nesta exposição
servem como meios para observar e coletar materiais, ou como objetivo em si, em
uma ação que é notavelmente ordinária. Assim, essa produção narra trajetos por
entre os locais que ela habita e aqueles que frequenta, acolhendo os restos e
propondo sentidos daquilo que sobra do fluxo de vida pela cidade, em
transformações contínuas.
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