segunda-feira, 14 de junho de 2010

Tarde de junho

 
mentardecer
singrando logaestrada quase nuvieclipsada
mais-do-que pedregosa acima das fuliginódoas
só para ser original.
tentáculos nebulares do polvomérico tingido-sangue
rasgos norizonte as obscenas rugas-varizes
eu-pisando a luz mortiça cinzafiltrada
diante de meus olhos raybanocultados
para escurecer a sangria entre as polufluídas
florações.
passo-a-passo pra quê? Pupilas calcinadas por
rubroespectros,
fumocinzentos densalcatrão dos hollywoods para o
meu sucesso.
e vendo passar os veloveículos rugindo contra o
poente
tão enternecedor! - violentam minha atenção
e patrulheiros com bruscos gestos se erguem
e pobres pedestres se arriscam entre dinomóveis
tudo sob a hemotingida paliclaridade
que vai rubrimaculando as torres as vidraças
o vestido da vendedora de sanduba
e a ponta de meus sapatos apressados
nos nuvengolfados diáfanos brilhos que fenecem
a deixarem chamerastros nos fiapos-algodão
um tingido cocar de rubras penas frementes
e indiferentes as carretas toracarregadas
em tremores sacodem asfalto e crateras
doando pânico os ruidocombustores que sonitroantes
assustam a jovem e silhueta em ousada travessia
em esguiogesticular contra os plenimoventes
contâiners
ali esperando saia pregueada atraindo assobios
uma paraleladimensão no rudecanto das
buzinas-sereias
e ainda os faróis cegantes penetram retinas
incautas
retinas que ousam participar dos derradeiros
espasmos do globo em chamas
a terra subindo nos rugondulares dos montes ao
encontro da mortalha de cúmulos
- uma tela digna de figurar nos panteões -
inacessível aos versos:
penas douradas soltas na porcelana anil
azulado-azulejo -
advém um frescor de tarde a invadir as penumbras
árvores esquálidas a filtrarem esmaecidos raios
agonia de palicores meio ao abismo de estridências
e nenhum silêncio nem suspiro-soluço em respeito
as exéquias do dia.
indo além... ultrapassando pesaroso os passos
em curso sem-sentido sobre a terra
sob as intempéries a espalharem em pó a terra
meditando banalidades sobre a secura e as fendas
refém do tempo refeito à tempo e opresso em furores
passos além de um fôlego prosseguindo...
rumo a incertas veredas alma adentro - mundo afora
outras trilhas sendo abertas, as mesmas dúvidas -
ainda
desbravando pisando pedrarestas cortantes para a
tênue pele dos delírios
furando arco-íris nas cortinas de névoas
grafitando sorrisos nas brumas do asfalto
ainda crendo na ecorrevanche do verde contra o cinza
pensando em cardiopalpitares a falta que ela me faz
- difícil aceitar isso! A incompletude do abraço
e todos os mal-entendidos lugares-comuns
na lenta passagem dos dias esvaído em humor
escurecido
paisagens... paisagens... além do alcance...
capelas brancomaculadas semeadas nas colinas
palmeiras altaneiras em fendas vale abaixo
mas o crepúsculo engoliu a cordilheira de nuvens
e o céu azul-noturno é um sombrio manto
e vem cobrir com trevas a claridade nas íris.
um caminhão atordoa os ossos um braço se agita
uma senhorita quase tropeça um sorriso se esboça
um clamor se silencia outro gesto que eu esqueça
uma folha já amarela cai na borda da sarjeta
alguém acena o ônibus passa o cidadão invisível
em vão protesta
a cabeça dói, os passos doem, o poente pesa,
as nuvens de fumo sobre os ombros
cinzenta massa de toxinévoas descem
os lacrimolhos piscam, quase sem lágrimas
de pesares sorvidos revôltas as entranhas com
ruídos
a espinharem tímpanos ensurdecidos
mas os passos doem, a tarde dói
outro andarilho se aproxima todo trêmulo
na mesma trilha, solicita atenção, algum centavo
a noite desce também sobre ele - sutilmente
outros fiapos do mantanil descem
dançam diante dos olhos cegados
por faróis que ardem mil chamas em brasas
nas íris fatigadas...
por que repetir que a cabeça dói, os passos doem...
eis que o rubropoente já se foi...
resta esta sombra esmaecida de mil passos dados
mil trilhas esquecidas, mil gotas sangradas
sobre pedrarestas.
mentardecer
Jun/04
Leonardo de Magalhaens
2010-06-14

Nenhum comentário: