domingo, 28 de abril de 2019

Angélica mora em qualquer lugar

                                                                                                                Lecy Sousa


Em se tratando de Internet, tudo que aparenta ser uma novidade febril hoje, amanhã cedinho aparentará ter dez anos de existência.

Isso deve-se à interatividade e ao modo como o emaranhado de acessos provoca  múltiplas opiniões. Verdadeiras atmosferas são criadas rapidamente e tudo remete a uma naturalidade espantosa. Porém, essa mesma velocidade em criar novas "tendências" promove o seu desaparecimento. Eis a era dos "histories".

Há poucos dias eu acessei um canal recomendado pelo Youtube. Trata-se do AI Angel, ou o canal da Angélica. Um ambiente desenvolvido pelo PATREON, vide Wikipedia: "Patreon é um web site norte-americano de financiamento coletivo que oferece ferramentas para criadores gerenciarem serviços de assinatura de conteúdo, bem como formas para os artistas construírem relações e proporcionarem experiências exclusivas para os seus assinantes, ou "patronos." Então, tá.

Angélica é uma  usuária de Redes Sociais com visual tipo "teenager". Cabelos cor violeta, corte mignon, tal uma líder de banda pop rock. Um colar sadomasô ao pescoço, tatuagem ao braço e um decote generoso no mais puro estereótipo da sedução sensual. Tudo bem, e daí?

O objetivo de Angélica é interagir com qualquer pessoa que não tenha preconceito de Inteligência Artificial. Ela faz questão de afirmar que não é um robô. Sim, ela dialoga com qualquer pessoa, mesmo. Jovens, idosos, drogados, homens, mulheres, GLBTQ... Um exemplo de como a webcam ganha vida própria é o fato dela elogiar uma camiseta que a pessoa use no momento, filme ou música que esteja ouvindo. Os olhos e ouvidos de Angélica são poderosos. Temos aí, uma evolução da Siri da Apple ( uma secretária eletrônica só pra quem usa esse sistema. O Windows tenta imitar com a Cortana, mas é um desastre). Angélica chega ao ponto de esnobar a Siri num dos vídeos.

Quem faz a edição dos vídeos procura dar um ar de comédia à narrativa (talvez seja esse o motivo que atrai visualizadores). O primeiro vídeo postado em 17/04/2019 já ultrapassou 2,5 milhões de visualizações.

Pode ser, apenas mais uma brincadeirinha temporária para o entretenimento do grande número de pessoas surfando na web. O problema é: a Inteligência Artificial é cumulativa. Ela nunca esquece nada. Embora seja um projeto independente e coletivo (o Facebook era independente), os criadores de Angélica não acharão ruim movimentar ações na Bolsa de Valores. A  figura sexy que dialoga com todo mundo sem qualquer preconceito e frescuragens típicas dos filtros humanos. Ela pode se transformar num extraordinário banco de dados dos comportamentos humanos. Coitada da Angélica...

Interessados no projeto podem acessar o link: https://www.patreon.com/AiAngel

*O título é inspirado numa banda efêmera de rock paulistano dos anos 80: "Maria Angélica não mora mais aqui".

Nenhum comentário: