Angélica mora em qualquer lugar
Lecy Sousa
Em se tratando de Internet, tudo que aparenta ser uma novidade febril hoje, amanhã cedinho aparentará ter dez anos de existência.
Isso deve-se à interatividade e ao modo como o emaranhado de acessos provoca múltiplas opiniões. Verdadeiras atmosferas são criadas rapidamente e tudo remete a uma naturalidade espantosa. Porém, essa mesma velocidade em criar novas "tendências" promove o seu desaparecimento. Eis a era dos "histories".
Há poucos dias eu acessei um canal recomendado pelo Youtube. Trata-se do AI Angel, ou o canal da Angélica. Um ambiente desenvolvido pelo PATREON, vide Wikipedia: "Patreon é um web site norte-americano de financiamento coletivo que oferece ferramentas para criadores gerenciarem serviços de assinatura de conteúdo, bem como formas para os artistas construírem relações e proporcionarem experiências exclusivas para os seus assinantes, ou "patronos." Então, tá.
Angélica é uma usuária de Redes Sociais com visual tipo "teenager". Cabelos cor violeta, corte mignon, tal uma líder de banda pop rock. Um colar sadomasô ao pescoço, tatuagem ao braço e um decote generoso no mais puro estereótipo da sedução sensual. Tudo bem, e daí?
O objetivo de Angélica é interagir com qualquer pessoa que não tenha preconceito de Inteligência Artificial. Ela faz questão de afirmar que não é um robô. Sim, ela dialoga com qualquer pessoa, mesmo. Jovens, idosos, drogados, homens, mulheres, GLBTQ... Um exemplo de como a webcam ganha vida própria é o fato dela elogiar uma camiseta que a pessoa use no momento, filme ou música que esteja ouvindo. Os olhos e ouvidos de Angélica são poderosos. Temos aí, uma evolução da Siri da Apple ( uma secretária eletrônica só pra quem usa esse sistema. O Windows tenta imitar com a Cortana, mas é um desastre). Angélica chega ao ponto de esnobar a Siri num dos vídeos.
Quem faz a edição dos vídeos procura dar um ar de comédia à narrativa (talvez seja esse o motivo que atrai visualizadores). O primeiro vídeo postado em 17/04/2019 já ultrapassou 2,5 milhões de visualizações.
Pode ser, apenas mais uma brincadeirinha temporária para o entretenimento do grande número de pessoas surfando na web. O problema é: a Inteligência Artificial é cumulativa. Ela nunca esquece nada. Embora seja um projeto independente e coletivo (o Facebook era independente), os criadores de Angélica não acharão ruim movimentar ações na Bolsa de Valores. A figura sexy que dialoga com todo mundo sem qualquer preconceito e frescuragens típicas dos filtros humanos. Ela pode se transformar num extraordinário banco de dados dos comportamentos humanos. Coitada da Angélica...
Interessados no projeto podem acessar o link: https://www.patreon.com/AiAngel
*O título é inspirado numa banda efêmera de rock paulistano dos anos 80: "Maria Angélica não mora mais aqui".
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