@lecypereira
Lembro-me do poeta Rogério Salgado, quando eu decidi participar de um
concurso sobre causos dos bairros de Venda Nova - BH. Na época, eu residia no
bairro Lagoa. A história verídica que escrevi, contada por um morador do
bairro, foi incluída no livro publicado pela Prefeitura. Recebi Cem Reais de
premiação por ter ficado entre os primeiros colocados naquela faixa etária.
Acho que foi o primeiro dinheiro que recebi na vida por escrever algo pelo
simples prazer de fazê-lo.
Eu vi o Rogério no
prédio da administração regional e me perguntei o que ele fazia por aquelas
bandas. Depois, eu fui saber que o cidadão Rogério Salgado estava bastante
envolvido com as atividades culturais do Parque Lagoa do Nado(próximo a Venda
Nova), incluindo o Sarau daquele parque, que hoje em dia é lendário e continua
na ativa. Particularmente, eu tenho um carinho muito especial pelo espaço bucólico do Lagoa do Nado. Lembro-me de ter
doado pelo menos 200 livros de literatura para a biblioteca da qual fui usuário
assíduo por vários anos.
O futuro reservava
um envolvimento que, de uma maneira tranquila e desinteressada, se transformou
numa amizade. Quando Rogério e Virgilene realizaram o primeiro Belô Poético, lá
estava eu, se não me engano, com o amigo Vinícius Fernandes Cardoso, no Teatro
da Fundação Artística de BH. Víamos aquele evento com um misto de curiosidade e
esperança. Com as dificuldades típicas de quem tem a coragem de organizar
eventos dessa natureza, sem patrocínio público, em 10 edições (sendo a última
em 2014), o Belô Poético passou a fazer
parte da história poética da cidade, uniu poetas de pontos geográficos
antagônicos e movimentou o cenário literário com lançamentos de livros e intercâmbio cultural. Poetas e poetisas
consagrados, em franca carreira e iniciantes foram abraçados por uma década de
eventos eminentemente inclusivos.
Já o Poesia na Praça
Sete, evento do qual participei com alegria, marcou época por trazer a
celebração poética para a rua. Poetas que dificilmente teriam espaço para mostrar seu trabalho em outros
projetos, dado o caráter exclusivista da maioria deles, encontraram no Poesia
na Praça Sete uma porta escancarada para o público. Vários dos grandes nomes que compõem a pauta poética de Belo Horizonte também
participaram desse projeto.
Um das qualidades do Rogério Salgado é a sua
predisposição de enfrentar o NÃO tão comum que o ativista cultural encontra.
Outra qualidade é sua resiliência para manter uma carreira poética por décadas,
enquanto muitos desistiram da poesia e arrumaram um emprego para terem um fundo
de garantia ao final do contrato. Com mais de 20 livros publicados (eu também
fui convidado pelo poeta a prefaciar um deles), textos publicados no exterior,
Rogério segue escrevendo para todos nós a sua história de operário poético. A
calçada da cidade recebe seus versos em forma de passos, na labuta cotidiana,
lembrando que o poeta é um homem e não um santo. Afetos e desafetos rompem em
sua caminhada. Que o tempo seja o verdadeiro juiz da sua dedicação à musa,
posto que o homem Rogério Salgado tem encontrado em Virgilene Araújo uma
companheira fiel e compreensiva ao longo da sua jornada.
Adiante e Carpe Diem!