quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Sentimento de plástico

                                                                                                                                        @lecysousa

Boneca hiperrealista de Michael Zajkov
Nos últimos tempos, quer dizer, nos tempos mais recentes o “negócio” de bonecas realistas tem virado moda. Primeiro, porque é um negócio muito rentável e quem decidir criar startups com variações do gênero vai faturar rios de dinheiro, por ser um mercado em franca expansão. Segundo, porque as pessoas estão se liberando de tal forma que não dá para afirmar se é mesmo sinal dos tempos – o tão desejado (por muitos) fim do mundo (muitos dirão que é uma situação profética). Eu sei que o tema “fim do mundo” é instigante e também é um negócio muito tentável, mas voltemos ao tema “bonecas”.

Foi-se o tempo que brincar de boneca era um negócio para infantes sonhadoras. Dar comidinha, fazer dormir de brincadeirinha e tal.

O “trem” ficou demasiado sério. Atualmente homens e mulheres estão comprando bonecas e bonecos não só para suprirem uma carência ou diversão sexual, mas para terem uma companhia tipo: levarem ao shopping, andar de metrô, passear no parque, fazer um piquenique à beira de um lago e, se for o caso, irem pra cama juntos...

Seria por demais interessante saber o que Freud e seus amigos de ofício diriam desse atual(?) comportamento humano. Para muitos é o demônio, falta de Jesus no coração, perversão, disfunção patológica, falta de amor ao próximo (humano). Para outros, a boneca (ou boneco dependendo dos pendores de cada pessoa) é a companhia perfeita (jamais reclama dos defeitos do dono).

Quem compra tal companhia, está desembolsando algo em torno de 17 Mil Reais para ter um produto exatamente conforme as exigências.

Vários filmes futuristas abordam um tipo de relacionamento entre humanos e robôs, mas não consideraram a hipótese dos humanos preferirem as bonecas sem cérebro mesmo. Robôs podem ser mais autônomos e começar a questionar a escravidão. No caso das bonecas, elas jamais criariam um sindicato para reivindicarem tratamento igualitário ou se rebelariam contra seus parceiros. Dificilmente uma boneca se sentirá traída se seu parceiro tiver uma recaída por uma humana. Elas também não seriam capazes de arquitetarem um plano para eliminar um parceiro rico, idoso e tísico, por exemplo, para curtirem as delícias da herança.

Se para os poderosos do mundo qualquer outro ser humano do baixo escalão não passa de estatística de guerra, para os empresários o que importa, de fato, é faturar com a necessidade alheia. Se fabricam bonecas com a boca da Angelina Jolie e com o olhar da Camila Pitanga é porque há demanda no mercado. E o comércio é fértil em inventar ou reinventar necessidades. Resta saber o quanto o ser humano consegue se reinventar a cada declínio do fator sentimental. Lembrando que, para muitas pessoas, sentimento é sinal de fraqueza e o romantismo é uma invenção burguesa. Esse é outro tipo de discussão que dá mangas para o pano...

Navegando pelos sites triviais, é possível deparar com este:

“27.jun.2016 - Senji Nakajima, 61, revelou que encontrou a felicidade ao começar a namorar uma boneca inflável. O empresário atualmente vive com a boneca, apesar de ser casado e ter dois filhos. A informação é do jornal britânico "Daily Mail". Segundo Senji, sua relação com "Saori" --nome da boneca-- é perfeita. "Ela nunca me trai. Ela não está atrás do meu dinheiro. Estou cansado dos relacionamentos tradicionais, pois as pessoas são sem coração", afirmou ao tabloide. "Para mim, ela é mais do que uma boneca. Não é só um objeto de plástico. Ela precisa de muita ajuda, mas ainda é a parceira perfeita, pois divide comigo os momentos preciosos da vida", completou.


Assim caminha a humanidade e não estou me referindo a um filme melodramático.