quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

De olha na Copa e sem um pé na cozinha

                                                                                                           Lecy Pereira Sousa                    

   
Todos os anos, os exames pré-vestibulares apresentam temas recorrentes (problemas sociais, ambientais e comportamentais) para as redações dos inscritos. Lembrando que a redação pode ser determinante para a boa classificação e a conquista de uma vaga pelo candidato.
    Se os políticos tivessem a oportunidade de ler essas redações, eles saberiam como os estudantes analisam os graves problemas sociais do Brasil e quais soluções eles apontam para esses problemas, desde que sejam agradáveis aos olhos das respectivas bancas examinadoras.
    Em relação à Copa do Mundo de 2014, tema que divide opiniões : fanáticos por futebol X indignados com problemas sociais, notamos que os investimentos financeiros são astronômicos para garantir o acesso, o bem estar e o divertimento de uma minoria que aceita pagar caro por esse tipo de lazer. Acresce aos gastos, a possibilidade real de envolver as Forças Armadas com investimento de R$ 40 Milhões em armas que usam balas de borracha, spray de pimenta e cassetetes, sem falar nos gastos com logística, alimentação e salários para manter esse efetivo nas ruas, só enquanto durar esse divertimento para poucos. Os demais, que assistam pelos telões, telinhas, Internet e ouçam pelas rádios, num processo hipnótico digno de anos de estudo.
    Uma coisa é a pessoa ser contra o futebol, ou não apreciar o futebol como fanatismo de arrecadação financeira. Na sua maioria, a população brasileira gosta de futebol, mas odeia a falta de investimento real em melhorias para a SAÚDE, ALIMENTAÇÃO, EDUCAÇÃO, EMPREGO E MORADIA (temas tão cobrados em redações escolares). Chega a ser irracional a comparação custo – benefício de um evento desse para um país como o Brasil que, ainda, está longe de uma Suécia no quesito investimento em melhorias sociais.
    Diante do surrealismo dessas decisões que apostam, exclusivamente, no efeito hipnótico do futebol sobre a população desinformada acerca dos acordos financeiros de reconhecida lesa-pátria, resta uma alternativa. A seleção brasileira de futebol precisa vencer na marra a competição. Caso contrário, restará aos governos locais, a indignação dos fanáticos por futebol com a indignação dos que esperam há 200 anos por investimentos maciços em SAÚDE, EDUCAÇÃO, ALIMENTAÇÃO, EMPREGO E MORADIA. Nas duas situações, tanto eu quanto você sabemos que pimenta boa é aquela que arde nos olhos dos outros. Mas PRE-PA-RA que o Carnaval vem aí!

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