sábado, 28 de julho de 2012

O caminho de volta



 No livro “As Grandes Profecias”, Franco Cuomo tem como propósito reunir num só tomo todas as profecias com respaldo religioso e até algumas perpretadas pelo exército de satanás. A tarefa foi cumprida em parte, posto que o livro não aborda a “cultura” profética de países como o Brasil (é possível que Xico Xavier seja um fenômeno recente demais para os estudos de Cuomo) ou o Japão, por exemplo.

Embora o autor deixe transparecer algum apreço pelos umbrais do Vaticano, seu “almanaque” pode ser lido por qualquer pessoa cuja religião não proiba a leitura de livros que abordam um assunto tão polêmico.

A abordagem de Cuomo  passa pelas aparições da Virgem de Fátima, os milagres do Padre Pio, as profecias altamente codificadas de Nostradamus, as vidências de Dom Bosco – sim, Dom Bosco era um vidente nato, característica que a Igreja vive suprimindo de suas biografias, da mesma forma que a Igreja censurou Padre Eustáquio por sua capacidade espetacular de promover curas em vida - , as artimanhas de Rasputin, que não viveu para assistir à sua última e comprovada previsão-maldição, a frustração de Alester Krowley, que não conteve sua inveja por... Adolf Hitler (figura difícil de apagar da memória do mundo  por tamanhas suas atrocidades). Krowley reivindicava para si a personificação do mal e do mau em amplitude, algo que o ditador alemão conseguiu com sucesso relativo (dado seu suicídio) por suas ações genocidas. Alester Krowley terminou seus dias na indigência, fato que o exército de satanás faz questão de omitir para não demonstrar fraqueza. Alguns pesquisadores que veem o mundo como uma grande conspiração, afirmam de pés juntos que grandes figuras do poder mundial fazem parte da Golden Dawn, sociedade demoníaca secreta da qual Krowley participou, mas não foi solidária com ele quando sua “casa” caiu. Nesses temas ocultos há sempre a hora da onça beber água. Não poderia faltar a versão clássica de apocaplises como a de João no último capítulo do Novo Testamento selecionado pela Igreja.

Muitos diretores de cinema devem ter se baseado nos cenários pintados por essas grandes profecias apocalípticas. Cada uma delas apresenta seus requintes de horror, o que  leva a crer que  há muitas versões de apocalipses. Cada revelação, seja bíblica ou não, traz seu detalhe alegórico. Fica claro que nesse campo da existência humana jamais haverá unanimidade de ponto de vista. Cada indivíduo pinta sua revelação conforme lhe é ditada (nunca é ditada a mesmíssima descrição), ou conforme sua noção de justiça e formação cultural. O oráculo sempre se adequa ao canal que utiliza. Num único ponto as profecias deísticas convergem : se a humanidade voltar-se para sua essência divina, observar os princípios da cristandade ( não se fala em fazer parte obrigatoriamente dessa ou daquela instituição religiosa) muitos projetos de destruição sumirão ao vento, mas se a humanidade abolir em sua maioria o sentido do sagrado em sua existência é bom todo mundo se preparar para ver a porca torcer o rabo sem metáforas. O acerto de contas entre Deus e o ex-Lucifer seria um fato mais localizado se as pessoas desenvolvessem a consciência do amor divino (quem ama seu próximo e tem consciência disso não assassina ou fabrica bombas com intensão de extermínio). Mas como a plateia é chegada numa arena, então é bastante provável que haverá espetáculo. Quando, não se sabe, mas a entrada será franca e ninguém perderá nem morto.

“As Grandes Profecias” não é um livro recomendado para pessoas com problemas psicoemocionais. Há livros mais amenos e divertidos. Pessoas com tendências suicidas também poderão ver seus problemas se agravarem ou ao contrário, descobrir um motivo para apreciarem o pouco tempo de vida que têm. Descobrir a beleza das flores, ir ver as ondas quebrando no mar (quando elas estão calmas), fazer o bem sem olhar a quem,  beijar e abraçar mais, ser mais esperançosas, etc. Franco Cuomo reuniu o que há de mais tenebroso à espera dos homens e das mulheres (há profecias para além do ano 3.000 do calendário romano e isso contraria muito quem deseja um fim mais rápido). De tal maneira, não importa a época  em que o indivíduo entre no planeta Terra. Sempre haverá uma profecia acerca de sua saída.

Naturalmente para os exegetas “As Grandes Profecias” não acrescenta nada ao que eles já conhecem até os manuscritos do Mar Morto. Para aquelas pessoas que não acreditam na existência nem de anjos  nem de demônios, esse livro pode ser uma ótima sugestão no gênero Fantasia.


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