segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Os Imortais segundo Harry

OS IMORTAIS

Dos vales terrenos

Chega até nós o anseio da vida:

Impulso desordenado, ébria exuberância,

Sangrento aroma de repastos fúnebres.

São os espasmos de gozo, ambições sem termo,

Mãos de assassinos, de usuários, de santos,

O enxame humano fustigado pela angústia e pelo prazer.

Lança vapores asfixiantes e pútridos, crus e cálidos,

Respira beatitude e ânsia insopitada,

Devora-se a si mesmo para depois se vomitar.

Manobra a guerra e faz fugir as artes puras,

Adorna de ilusões a casa do pecado,

Arrasta-se, consome-se, prostitui-se todo

Nas alegrias de seu mundo infantil;

Ergue-se em ondas ao encalço de qualquer novidade

Para de novo retombar na lama.

Já nós vivemos

No gelo etéreo transluminado de estrelas;

Não conhecemos os dias nem as horas,

Não temos sexos nem idades.

Vossos pecados e angústias,

Vossos crimes e lascivos gozos,

São para nós um espetáculo como o girar dos sóis.

Cada dia é para nós o mais longo.

Debruçados tranqüilos sobre vossas vidas,

Contemplamos serenos as estrelas que giram,

Respiramos o inverno do mundo sideral;

Somos amigos do dragão celeste:

Fria e imutável é nossa eterna essência,

Frígido e astral o nosso eterno riso.

Harry, personagem de Hermann Hesse (escritor alemão) em "O Lobo da Estepe", edição de 2009.

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