quinta-feira, 23 de abril de 2009

Em Deus nós confiamos!

Em Deus nós confiamos!

In God We Trust

 

                                                                              ©Lecy Pereira Sousa

 

Entre uma mídia e outra sou um leitor ostensivo do Frei Beto.

 

Aliás, sou leitor ostensivo de uma leva de autores com os mais diversos matizes intelectuais.

 

Em meio a um e outro texto do Frei paro e pergunto a mim mesmo: até quando a sociedade brasileira viverá de constatações? Oscilamos entre o magma intelectual e a contundência dos fatos. Em que pese a fé e as diferenças religiosas que, na minha opinião de leigo, mais contribui para a sustentação das diferenças de classes sociais – não a fé, mas as igrejas enquanto instituições de poder, bem entendido.

 

Louvável é a militância do Frei Beto em torno das suas crenças e valores. A ação humana costuma ser mais valorosa e intervencionista no sentido libertário do que um desfile de laudas caudalosas que de alguma forma resumam uma filosofia de vida.

 

O pensamento de Fidel Castro compilado em livros é caudaloso. O mesmo podemos dizer sobre o pensamento de Che Guevara, Karl Marx, Adam Smith, Winston Churchil, Luis Carlos Prestes e mais o pensamento de todos os políticos do Brasil, pós-instituição da República.

 

Um claro exemplo de que a ação antecede o pensamento plasmado em letras está na civilização maia que tinha seu modelo de rede de esgoto. Na Idade Média a França possuía seu modelo de rede de esgoto. No século XXI populações inteiras de cidades do Brasil e do mundo vivem com esgoto a céu aberto com ou sem metas do milênio.

 

De que adianta saber de cor e salteado a filosofia de X, Y ou Z? De que adianta saber todos os parágrafos da consolidação dos Direitos Humanos? Vou mais longe: de que adianta toda a literatura concebida no Brasil de 1500 a 2009 se não se destinam verbas suficientes para criar uma infraestrutura que garanta a existência digna dos brasileiros que mais necessitam? Talvez seja necessário desenvolver um melhor conhecimento das Ciências Contábeis. Somos filósofos demais e pouco práticos. Ou somos maus religiosos. Tenha esperança, Deus dará ao povo do Brasil a infraestrutura que ele merece, Deus cuidará de tudo, reze e tenha fé. Deus oferecerá água tratada, Deus oferecerá moradia digna, Deus oferecerá boas escolas, ótimos salários para os professores, emprego para todos, etc. etc. O esperancismo provoca em mim reticências... Que me acuda Eduardo Galeano com seu pensamento agudo para a América Latina. Até parece que Deus não deixou ouro e diamante suficiente no Brasil para que os homens nascidos aqui construíssem uma potência continental. Após sugar toda nossa riqueza mineral, o país colonizador nos deu a Independência, não sem antes enforcar e esquartejar uma figura que vivia consumindo a filosofia libertária dos franceses que possuíam know how em revoluções e rede de esgoto desde a Idade Média.

 

Afinal de contas para que se preocupar com tudo isso, não é verdade? Procure viver e ser feliz. Relaxe. Vá à praia ou ao campo, pratique alongamento, sorria, diga sinto muito, perdoe-me, amo-te, sou grato, viva em harmonia com a Natureza, pratique meditação. Que Deus lhe dê sabedoria para discernir o que você pode mudar e o que não pode. Seja muito feliz e tenha muito sucesso. Mas, além disso, tenha esperança. Só os Estados Unidos e a Europa merecem as riquezas desse mundo. Bem aventurados os famintos, pois eles serão saciados no outro mundo. Deixe tudo nas mãos de Deus. Ele tem a solução e sabe o que faz.  O povo de Deus sabe esperar. Tudo é mistério.

 

Ler Frei Beto me provoca o instinto libertário. Também já andei lendo a "Teologia da Libertação" de Leonardo Boff. Agora estou com uma vontadezinha de dormir.

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