ESSENCIALMENTE INÚTEIS"
I – Vou te sendo palavras
Ao vivo diante da morte
II – Eis o epitáfio do mundo inteiro:
"Aqui jazz todas as gerações
que viviam com o rei na barriga"
III – Hoje eu quero
Rimbaudar de poesia
Harodaugustar poemas concretos
Olavar bilacamente minha cara/
de pau
Então urubu será pomba da paz
IV – Poesia de verdade
Só uns gatos pingados fazem( MIAU!)
Eu sou uma hiena deslumbrada
Com tanta sinceridade.
V – Quando você chegar lá
Lembre-se que eu também sou gente
E mereço gozar no paraíso.
VI – Tamanhos são os absurdos
Mas seguimos todos mudos
Nas praças do submundo.
VII – Criticando a razão pura
Poesia de pobre é marginal
Poesia de rico é intelectual
Eu sou um animal
Admirando o céu da Pangéia.
VIII – Tudo é poesia
Sinta a imponência do T
A concavidade do U
A dádiva do D
A profundidade do O
Tudo é criação!
IX - Uns morrem de implosão
Outros vivem de explosão
Alguns mais de exploração
Dizendo que deus é grande
Eu sou um jumento
Vagando por Jerusalém
Ouvindo Ave Cezar em cada esquina.
X - Reivindico o direito
De ser cara ou coroa
E de não sê-las
Talvez um selo numa carta
Rumo ao extremo Norte.
XI - Se nada de relevante
Tenho a dizer
Passo a escrever
Sem a menor preocupação
De ser compreendido
Nas entrelinhas .
XII – Em meio a tanta inteligência
Nesse mar de gente sabida
Pseudosei um monte de coisa alguma.
XIII – PREDOMINA
TE MENTE
O HOMEM
SOMENTE
XIV – Vejo copos-de-leite
Florindo pelos campos
Vejo damas da noite
Perfumadas e de salto alto
Vejo a menina dos olhos
A pupila se olhando no espelho.
XV – Se houver amanhã
Eu quero que faças
Um favor a você
Deixe o bicho de estimação
O ensaio pitagórico
A arrogância de sempre
A puta que não te pariu
Seu professor de técnicas vocais
E vá ver o sol nascer
Teus olhos jamais verão
Idêntico espetáculo
Nem se houver amanhã.
XVI – Com toda sinceridade
Olhe bem no fundo
Desses meus olhos disfarçados
E responda sem pestanejar
Onde posso enfiar tamanha lucidez
Ante a embriaguez do mundo.
XVII – Em cada esquina
Há cadafalso
Mamãe faz café da manhã
Eu faço poema da noite
Em cada esquina
Há um assalto
Corre vamos fugir
Pelo asfalto que nos persegue
Alguém faz cem por hora.
XVIII – Os ossos partem
Para qualquer lugar
Seguem para o pó das estrelas
Partem para o Leste
Quebram na esquina Norte-Sul
Vão para um céu calcificado
Marcham cedo e esqueléticos
Partem estalando doidamente
Vão devagar e sofridos
Partem todos os ossos
Cai uma lágrima do olho da carne.
XIX – Certas mudanças
Vêm de avião
Outras nem saem do chão
Algumas morrem atrofiadas
Por falta de irrigação sanguínea.
XX – Dormirei agora
E ao acordar saberei
Que a mãe de todas as guerras faleceu
E o caixão segue cheio de flores
Restando aos órfãos desconsolados
Ouvir o canto alegre dos pássaros
E ver revoadas de pombas da paz.
APÊNDICE (QUASE ESTOURANDO):
Nesse mundo
reina o conceitual
de doce ou de sal.
Existir é vital
Inexistir é inevitável
Homem que sou
Minto e omito
Mal ou bendito
Mesmo assim
Tudo vira mito.
FIMINFINITOINFINITOINFINITOINFINITOINFINITOINFINITOINFINITOFI
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