terça-feira, 21 de outubro de 2008

sobre PRIMEIRAPESSOAPLURAL obra de Lecy Pereira Sousa



From: Leonardo de Magalhaens <leonardo_de_magalhaens@yahoo.com.br>
Date: 2008/10/21
Subject: sobre PRIMEIRAPESSOAPLURAL obra de Lecy Pereira Sousa


Sobre a obra PRIMEIRAPESSOAPLURAL
do Poeta Lecy Pereira Sousa
 
Poemaremos por falta de opção
 
   Sabemos que o mito da 'oportunidade iguais para todos' se revela um mito
tão fabulístico quanto a 'liberdade de mercado'. Percebemos que 'o mercado
sem Estado' é mera 'ideologia neoliberal', e que se a 'vida é uma corrida',
alguns saem 50 metros a frente de outros tantos.
 
   Sendo assim qualquer pregação de coerência revela-se ideológica e metafísica -
não há redenção no 'deserto do real'. Só há uma existência do 'sou o que tenho' e
uma pseudo-existência virtual - 'sou o que a mídia(os outros) diz(em)'.
 
   Sem opção, sem oportunidades, resta a ironia, o poemaremos por teimosia,
por cinismo, por insubordinação e 'desobediência civil'. Assim, o Poeta
Lecy Pereira Sousa não busca um 'sistema poético', não vem pregar mais nada,
apenas distribuir fragmentos em rascunhos em guardanapos, num 'mix' de
influências, num mosaico de colagens, juntando logomarcas e citações, numa
série de imagens cubistas, quadrilhas futuristas e 'haicais' irônicos.
 
   A poesia de PRIMEIRAPESSOAPLURAL é demasiadamente pessoal sendo obscenamente coletiva, numa bacanal de linguagens, numa orgia de corpos-objetos,
sem deixar de denunciar e de verter amargura.
 
   Afinal, o poeta sofre com a falta de opção. "Diluir a melancolia / Na rústica
face do dia / Somos seres fragmentados / Numa solidão coletiva" (Ingrediente
do mix - 1) e também "Não fazemos poesia / A poesia é quem nos faz / Meio tortos,
meio retos / Meio iniciantes, enfim" (Sobre o criado-mudo)
 
    O Mundo é construído de fragmentos, "construir um fabulário / De pedaços /
De nossas vidas", de pedaços desconexos, sem sentido, para os quais buscamos
(ansiosos e desesperados) um sentido numa ordem coerente,
 
"Querer que tudo faça sentido
É de uma chatice sem fim
Experimente poemas menos quadrados
Beba um pouco de tinta nanquim
Para cuspir flores no deserto da realidade"
(ingrediente de mix - 5)
 
    O mundo está aí para ser sentido. Como dizia Alberto Caeiro, como dizia
Clarice Lispector. "Para sentir o mundo / Há que assuntar as coisas / Com
precisão dos olhos de lince / E procurar ao redor do mundo / Sentido que está
atrás do Sentido" (p.23), numa espécie de 'prólogo' para o Manifesto da p. 31,
 
"Sem artificialismos, assim,
respiramos no casulo da vida.
Vibramos por poéticas
universais feitas nos quintais
de nossas casas imaginárias.
Por linguagens que só
os corações sabem entender."
 
   Desse 'sentimento do mundo' nasce a rebeldia poética. Quando o Poeta enfim
desabafa, como vemos em "Discurso transitório" (p. 27), "Senhoras e senhores /
Tenhamos a hombridade / De viver dentro da verdade. (...) Porque essa é a nossa
luta: / um rasgo de dignidade / Na face da canalhice. (...)"
 
   Dialogando e discursando em hibridismos e metáforas, a poesia é a forma-mor
de comunicação não alma a alma, mas paixão a paixão. Afinal, uma poesia que
não emociona, não merece atenção. Quando aqui o poeta Lecy expõe-se desnudo
de boas-maneiras politicamente corretas quando não só pretende chocar, mas tornar
o leitor um cúmplice, ele torna a sua voz-pessoal em discurso-coletivo, daí nascer
o 'nós', a primeira pessoa do plural.
 
   Lecy não diz "eu vou poemar sem fim", mas "poemaremos sem fim", pois a sua
voz é coletiva - e coletiviza - assim sub-entendida (ele não precisa de "NÓS
poemaremos", etc), mas está atento ao que se espera dele, enquanto Poeta, no
sentido de 'voz coletiva' (a voz que brada no 'deserto do real', igualzinho ao João
Batista às margens do Jordão. Porém, uma diferença, que Profeta, que Messias,
Lecy estará aqui pre-anunciando??)
 
"Poemaremos por falta de opção
Rijos tensos intumescidos
Retesadamente lascivos
Ao cair da noite & ao levantar do sol
Duros de coração
Monossilábicos átonos atônitos
(...) "
 
   E continua assim por mais 6 páginas (!!), num fôlego caótico e cubista, sem
pausas, sem meias-palavras, sem considerações com terceiros, sem loas aos ídolos,
sem piedade para com as autoridades (civis, militares e religiosas!), como um
beatnik
sem eira nem beira, sozinho no meio da multidão (assim como Baudelaire
em andanças nas ruelas de Paris, no meio das multidões dos boulevards, e morrendo
de tédio!), despejando um desespero lírico e convulsivo de sílabas de rimas
esdrúxulas de palavras-valises de neologismos de citações e barbarismos, e
rótulos de mercadorias e ícones do consumismo.
 
   Mas por que todo este mal-estar na modernidade? Ora, vamos ler Freud,
ler Sartre! Por enquanto sem explicar, mas se deixando levar! Somente por
indignação e insatisfação!
 
   Desobedientes, insubmissos, subversivos, em pleno "ano que ainda não terminou" (1968??), como esbraveja o poema "Diversos demais" (p. 35)
 
"Insatisfeitos com a norma
Insatisfeitos com a forma
Arredios à métrica
Desafeitos ao decassílabo
Nós somos uns subversivos"
 
   Que a aura beatnik subversiva - e multipluricolorida - do Poeta Lecy Pereira
Sousa continue a nos emocionar, ousando cores no mundo cinzento, além de flores versoviçosas no asfalto cotidiano.
 
Carlos Prates, 17out e
Barreiro, 21out08
 
Por
Leonardo de Magalhaens
 

sábado, 18 de outubro de 2008

Cortesia Vivali - Nona Lua

















OBS.: O livro de mini-contos "A Coleção dos Sentidos" de Lecy Pereira Sousa encontra-se disponível para leitura no software Virboo, exlusivo da Vivali Editora -




sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Fórum 2008 é lançado para a imprensa em Belo Horizonte



Olá Lecy Sousa,

A entrevista coletiva de anúncio da quarta edição do Fórum das Letras de Ouro Preto 2008, que vai acontecer entre os dias 5 e 9 de novembro, reuniu ontem, 15 de outubro, no FIEMG Trade Center, jornalistas de todas as mídias, representando veículos de comunicação de BH e da antiga Vila Rica. Marcaram presença o prefeito de Ouro Preto Angelo Oswaldo, a coordenadora geral do Fórum, a escritora Guiomar de Grammont, e o escritor Luiz Giffoni, que representou os autores participantes.

A coordenadora geral, Guiomar de Grammont, disse que o tema central do evento "Mistério na Literatura" foi determinado, quando foi possível vislumbrar o elenco de autores internacionais. "Compreendo este tema como um enigma do ser, como toda forma de expressão que se origina da arte, todo texto que propõe despertar a curiosidade no leitor". Segundo ela, o Fórum não se trata de um evento com a intenção de formação de público leitor em apenas cinco dias. "É um trabalho contínuo, que depende da mídia e da agregação de parceiros, fazendo com que pessoas de interesses comuns se reúnam numa mesma paixão", destacou.
A diretora do IFAC – Instituto de Filosofia, Artes e Cultura da UFOP também falou sobre o seu envolvimento pessoal com o fórum, a criação da temática principal do evento e o critério de seleção dos autores, deixando claro sua paixão pelas letras. "O meu envolvimento não é somente curatorial, é genético. É muito gratificante, porque é um evento onde criamos um conceito geral, montado a partir de gêneros literários, o que me permite ir ao acordo dos meus ideais. Na maioria das vezes o meu critério de escolha dos autores é percebendo cada um deles, através da parceria de editoras, lendo e me impressionando pela qualidade de muitos livros ainda fora do circuito".
O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo, destacou a "vocação cultural da cidade, que vê o Fórum das Letras culminar como o grande encontro literário de Minas Gerais, ao lado de grandes acontecimentos artísticos, cênicos e musicais, como o Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana", também realizado pela UFOP.
Luiz Giffoni salientou a importância do evento, considerando-o um dos maiores encontros do gênero em Minas Gerais, "É uma grande alegria estar de volta ao Fórum das Letras, já que tive a oportunidade de participar da primeira edição, em 2005, sendo interessante observar que este ano foi expandida tanto a temática do Fórum quanto o número de autores presentes".
Guiomar ressaltou ainda o critério para a composição das mesas de debate no Fórum. Buscamos reunir numa mesma mesa autores consagrados com os da nova geração. "Muitas das vezes é um bom marketing que define um bom autor. Eu vou na contra-mão disso. Contra este sistema que muitas das vezes deixa esquecido grandes autores. Nosso objetivo é revelar obras para o público e permitir a divulgação das obras de novos autores", finaliza.

Para mais informações sobre o evento, acesse o site http://www.forumdasletras.ufop.br/.



sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Infinitivos (conto experimental)




Você me amar, perguntar.


Até o limite do assombro, responder.


Desaparecer, algo inimaginável. Ele, ela, eles, elas, nós, vós.

Há uma cidade correndo inteira por cabos telefônicos em postes. Correm as vozes num fluxo verbal congestionante.


Esperar que ela me entendesse quando atendesse a chamada. Ontem foi difícil, talvez não menos que agora. Aquelas fotografias congelaram um beijo que recebi numa festa tecno, dizer numa "rave". Esse é o terrível terreno da subjetividade. Suposições. Que último romance Dulcinéia ler? Que último filme assistir? Há de ser a adaptação de "Ensaio sobre a cegueira" por Walter Sales Jr. ou "Meu nome não é Johny". Que música ouvir ou quadro a reparar: cena rural, soberbia urbana, abstrações, viagens oníricas? Há na rua da selva, onde os homens não têm nome, mas números, um leopardo a nos espreitar com seu olhar agridoce numa busca elegante, imponente, por presas que afiem mais suas presas que dariam curiosos souvenires pendurados no pescoço da modelo desfilando a moda praia na passarela anoréxica.


Amar sob o filtro das luzes desse teatro de arena. Que entrem os leões! Espere, há um erro de texto. Que entrem as ninfas! Ele vive num rio de incertezas urbanas a questão em sua mente é por que alguém procura alguém para ser senhor ou senhora. A perpétua cumplicidade de um cão e seu dono feito um par de olhos cegados sendo guiado por outro par de olhos sãos. Ele tem dúvidas de amor na sórdida mitologia contemporânea. A estranha necessidade da certeza.


Se ela não amar, desaparecer.


Culpar eles que mais sabem impedir a consumação de um amor. Eles que povoam a noite de assombro. Eles que não suportam ver amar ao sabor das ondas calmas. Eles da turma dos filhos de Caim, esses que vivem a vagar sem um riso no rosto e não suportam o triunfo das belas artes.


Você me amar, ela perguntar.


Iludir, indefinir, ele responder, amar o fluir, o amanhecer. Só a essência permanecer, entender?

Será que algum dia eu caber em sua beleza, ela perguntar.


Você caber em meu fazer, ele responder.


Tudo afirmar. Medo de ver o tempo correr. Cada dia ela passar ao som do reggae, do samba, da bossa nova.


Quem eu amar, muito querer me fazer sofrer, ferir, ignorar, humilhar, ele dizer. Parecer que amar se sustentar de antônimos.


A gente se encontrar numa danceteria, ela falar, muito dançar, muito girar, globo, câmera lenta. Nossa história de desenredo começar. Beijar, beijar, lembrar disso?


Isso. Hoje só lembrar, fotos, filmes, objetos, uma lua logo ali, o sol ao sabor do ventar do nosso amor de férias.


Você me amar de verdade, ela perguntar.


Sim, sim, sim, te amar, até aprender a deixar de ser, ele responder.



Lecy Pereira Sousa

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Rodolfo Zíper e seus planos para o mundo


Algum dia você já imaginou uma pessoa doida, mas que parece certinha? Pois bem, Rodolfo não é uma coisa nem outra. Trata-se de uma combinação meio estranha dos estados do ser. Seu apelido se deve ao hábito que ele tem de não usar cuca e, num belo dia, o zíper da calça que usava prendeu a ponta do seu prepúcio. Foi uma experiência hilária e, certamente, dolorosa.



O fato de Rodolfo ser alvo da malhação alheia levou-o a arquitetar um delicioso plano de vingança. A grande idéia surgiu enquanto bebericava um chope num boteco. Ele apelou e se cansou da pindaíba pela qual vinha passando. Resolveu, como dizem por aí: “chutar o balde”. Destilaria suas mágoas nas pessoas. O pobrezinho já não agüentava o deboche dos outros por causa do seu bigode estilo escovinha (realmente horrível) e do seu cabelo no melhor penteado “boi lambeu”. Todos gargalhavam. Rodolfo reagiu a tudo com fúria mortal.


Apoderou-se de uma caneta e de um bloco de papel e decidiu aprontar uma reviravolta incomparável. O mundo estaria em suas mãos. O poder seria seu. Que coisa maravilhosa! Nada poderia impedi-lo.



Ele começou escrevendo:



“Eu sou o único poder. Todos elementos se curvam diante de mim. Portanto, todas as coisas são como eu quero. Então, determino: agora o mundo é uma bola de sabão feita pelo meu canudinho e todos estão com o coração na mão temendo que ela se arrebente. Que prazer isso me dá!”
Cansei-me dessa brincadeira. Agora o mundo é uma pizza de presunto tamanho família. Mas eu detesto presunto e vou jogar tudo para meu cão pastor alemão que está faminto há dias. É muito bom ver a aflição das pessoas diante disso.




Agora todos os homens são meus soldadinhos de chumbo e todos eles me saúdam em posição de sentido, dizendo: Dá-lhe, Zíper! Dá-lhe, Zíper! Quando amanhece, religiosamente, eles fazem trezentas flexões de braços em minha reverência. Que beleza! Todas mulheres possuem uma foto minha, com pose de estadista, presa à porta do guarda-roupas, provando que eu sou irresistível e unânime. Realmente, é chato ser tão gostoso.



Declaro que a Terra é o centro do universo e se alguém abrir a boca para discordar eu pego, prendo e arrebento. Alguém se habilita? Considerando que eu sou uma pessoa extremamente sensível, só terão direito à vida aquelas pessoas que copiarem meu look, usarem a mesma marca de xampu, perfume e sabonete que eu. Aqueles que resistirem, serão enviados à câmara de gás ou receberão uma inofensiva injeção de gasolina.



O único filme a receber todos os prêmios da Academia, inclusive o de melhor dos melhores chama-se “Rodolfo Zíper, uma lição de vida”, e serão rodadas cerca de dez continuações. Em cada residência haverá um quadro pintado por mim. Todos Van Gogh, Picasso, Rembrandt e Dali vão se transformar em cinzas, na minha lareira, naquelas longas noites de Inverno.



Eu sou motivo de todas honrarias possíveis. Os selos têm a minha cara, há bustos meus em praças públicas. Fui eleito homem do ano outra vez consecutiva, moedas e notas levam a minha efígie, há um serviço telefônico com mensagens minhas. Devo lembrar que a melhor banda de rock de todos os tempos fui eu quem criou e as modelos mais bem pagas posam para fotógrafos da minha revista masculina. Quando eu vou ao zoológico, as cobras serpeiam de alegria e, unidas, formam no chão o nome RODOLFO. Os papagaios desandam: “Dá-lhe, Zíper! Dá-lhe, Zíper! Cada macaco usa uma camiseta promocional com os dizeres: “Rodolfo é o maior”. É emocionante ver tanta devoção para comigo. Até as nuvens formam caricaturas minhas no céu.



Agora, o maior best seller é nada mais, nada menos do que a minha autobiografia. A comunidade literária está de queixo caído. Todos os anos jovens fazem gincanas culturais com curiosidades sobre minha vida. A editora que, por acaso, é minha, prepara a milésima edição do meu consagrado trabalho. O mundo passou a ser um espote de luz lançado sobre mim e ilumina meu desempenho como ator de uma grande comédia. Eu seguro um globo na mão e ameaço espetar países de todos os continentes, enquanto o público chega a chorar de tanto rir. Minhas ações revelam graciosidade. Sou a excelência.



O globo terrestre passou a ser o meu quintal e, de certa forma, isso é entediante. Quem sabe o universo é uma brincadeira ainda mais divertida? Os planetas podem ser bolinhas de gude e minha vontade é jogar todas elas no buraco negro.



Agora, ninguém me menospreza nem me chama de cara de fuinha quando caminho pelas ruas do bairro onde moro, porque sou, inconcebivelmente, superior a todos”.



Com uma caneta e fértil imaginação, Rodolfo pode tudo, criando situações para satisfazer seu ego ou escarnecer os exageros e as aberrações do mundo. Mas o que ele deseja, realmente, é comer-beber-dormir-ir ao banheiro-amar-pensar sem correntes presas ao cérebro. Ligar uma televisão sem ter que ouvir que algum fariseu armou uma bomba e mandou inocentes pelos ares. Rodolfo é incapaz de fazer mal a um leão faminto, desde que não critiquem seu penteado e seu bigodinho (horrível).



Mal Rodolfo Zíper concluiu seu manifesto que lhe outorgava poderes supremos, um garoto que passou do outro lado da rua, vendo aquela figura sentada na varanda da casa, não resistiu e gritou:



-E aí, boi-lambeu, segura a onda aí!




Lecy Pereira Sousa
__________________________
Obs.: A ilustração utilizada neste conto está no site www.michaelgillette.com

Érika Machado no Stereoteca

Shows da cantora mineira Érika Machado

Érika Machado também participa do Projeto Pão e Poesia e esteve no 1º Viva Poesia Poesia Viva de Contagem que pode ser conferido clicando aqui









Olhares (conto)


From: Leonardo de Magalhaens <leonardo_de_magalhaens@yahoo.com.br>
Date: 07/10/2008 18:33
Subject: Olhares (conto)

um conto de outrora...

 

OLHARES

 

  Estranho é andar pelas ruas, numa manhã isenta de sol, furando as ondas do tráfego, e sentir, queimando, os olhares acusadores dos passantes. Suas faces transformadas, tal em convulsões, de bílis vertida nas estranhas, e um rasgo de deboche nos lábios, um não-pode-você-fazer-que-vai-nos incomodar toda vez que insistimos em seguir junto as vitrines, e ao fim, nos desviamos, antes de derrubarmos, por terra e cimento,  a senhora com suas inevitáveis duas sacolas prenhes de mercadorias, e ela ainda insatisfeita.

 

    É assim: todos me acusam. Estou sujo, um traço de dentifrício marca em cicatriz o subúrbio de meus lábios, ou meu cabelo se enroscou serpentino ao vento de fuligens.

 

    É assim: de súbito, um olhar me enternece. Uma garota de meu interesse, que penso já ter visto antes, talvez num dos agitares do mercado, alguém enfim que percebo admirar.

 

    Aproximei-me, puxei assunto. Ela, meio assim desconfiada, mas ainda certa atenção. Percebo meus passos, enquanto sigo ao lado daquela de olhos tão abraçantes. Aí ela entra na igreja.

 

    Olhei o altar, ali uns poucos fiéis, e aquele cheiro de incenso me nauseava. Ela se encaminhou aos últimos bancos, deixando meia igreja de bancos vazios entre ela e os devotos. As devotas.

 

    O que fiz? Sentei-me o lado dela, meio deslocado. Levantei-me e, assim inclinando, cochichei ao seu ouvido: "Querida, você não quer que conversemos na igreja, quer?" ela se levantando, assim meio contrariada, mas sem outras hostilidades, olhando assim com aquela timidez, mas parecia querer se entregar - ali contida ainda por alguma desconfiança. Algum meditar a retinha.

 

    Penso, logo desisto. (Citação, meu velho.)

 

    Ela foi seguindo à  minha frente. De súbito, parou.

 

    É que ela, voltando-se para mim, verteu olhares perplexos. (enfrentei muitos olhares, mas aquele era.) Possuída pelo olhar, ela exclamou irada: "Bem que minha mãe me alertou!" Deu-me as costas, seguindo para a porta. Tentei sair no seu encalço, fui barrado por uma voz autoritária: - "Parado aí, amigo."

 

   Amigo? Dois policiais ali estão. Braços cruzados à altura do peito, na representação correta de autoridades, donas de meu ir-e-vir. Mas eis a porta e vou abri-la assim mesmo. O ar da igreja me sufoca. Abri mesmo. Alguém ainda diz, à milhas: -"Eles vieram é pra te prender."

 

    Como já disse, abro a porta. Na calçada os vultos, quase humanos, de mais dois policiais. Fardas furando na retina a profunda calma. É um suor o que me afoga a nuca, e singra meandros do pescoço? Blá, blá, blá. Na viatura, do outro lado da rua, mais dois. De repente parece que já esperava por tudo aquilo. Um batalhão para me prender!

 

   É uma manhã isenta de sol ( acho que já disse isso...) e digo,aborrecido: "Tão cedo!"

 

    Garras metálicas a beliscarem-me o retesar dos pulsos.

 

    Vejo, à distância, a moça se esvaindo nas brumas do asfalto quente.

 

 

 

   Fev2004

 

 

  Leonardo de Magalhaens

 

 


sábado, 4 de outubro de 2008

Para quem gosta de ler


From: Luciano Nunes <cartoonunes@yahoo.com.br>
Date: 2008/10/4
Subject: Para quem gosta de ler
To: Podrera <cartoonunes@yahoo.com.br>


Para os amantes da literatura estrangeira,

 

Estou dispondo de um livro Raro do autor Charles Bukowski por R$ 35,00. Quem souber de alguém que se interesse em adquiri-lo, peço a gentileza de comunicar por e-mail. Este mesmo título foi relançado pela L&pm editores no formato pocket com preço popular. O exemplar que estou disponibilizando é para colecionadores ou interessados.

 

DESCRIÇÃO

 

Título: Factotum
Autor: Charles Bukowski
Edição: 1ª edição
Ano: 1985
Páginas: 160
Editora: Brasiliense
Série: Circo de Letras, nº: 27
Classificação categórica: romance – literatura estrangeira

Encadernação: brochura

Descrição sobre o estado físico do livro: semi-conservado; capa com escoriações mínimas, uma assinatura na folha de rosto datada pela antiga proprietária, miolo amarelado devido à ação do tempo, entre as páginas 09 à 35, na parte superior de cada folha, há pequenas manchas de oxidação do papel que não comprometem a leitura. Pela raridade da obra vale apena!

 

SINOPSE

 

Em Factótum, segundo romance de Charles Bukowski, publicado originalmente em 1975, encontramos mais uma vez Henry Chinaski, alter ego do autor, protagonista de vários dos seus livros e um dos mais célebres anti-heróis da literatura americana. Durante a 2ª Guerra Mundial, o loser Henry (que reaparece mais tarde no magnífico Misto-Quente), é considerado "inapto para o serviço militar" e não consegue entrar para o exército. Enquanto os homens alistados para a guerra são vistos como heróis, Chinaski, sem emprego, sem profissão nem perspectivas, cruza o país, arranjando bicos e trampos, fazendo de tudo um pouco (daí o nome do livro, do latim "Pau-pra-toda-obra"), na tentativa de subsistir com subempregos que não se interponham entre ele e seus dois grandes prazeres: escrever e beber.

 

OBS: anexei em formato JPG a capa do exemplar que estou dispondo.





Na juntura dos ossos



Na juntura dos ossos





Dentro do tempo veloz vamos tecendo e sendo tecidos


dentro de cada segundo que esvai


mundo afora afora fora for





Aqui, algumas partipações que fiz ao longo deste ano. Sem dúvida, um ano plural - Lecy Pereira.





Março-2008





Participação no livreto "Pontos Cardeais - Encontro Literário" editado pelo poeta contagense Vinícius Fernandes Cardoso. Também participaram Diovani Mendonça, Kennedy Cândido, Yendis Asor Said;




Abril - 2008


Um mês onde tudo aconteceu. O poeta Diovvani Mendonça lançou o "Pão e Poesia" pouco depois que tive uma perda familiar. Abaixo, o poema Dilema do Eletropoema de Um Fôlego Só e minha participação no Projeto Stereoteca, na Biblioteca Pública de Belo Horizonte-MG (24/04/2008):





Maio de 2008
A convite de Diovvani Mendonça participei do Sarau no Parque Lagoa do Nado em BH sob a curadoria do poeta Ricardo Evangelista. Uma noite para não esquecer. A seguir, por atitude do "mago" Marco Llobus fui capa do Poetus, uma criação louvável do próprio Llobus:





Junho de 2008
Por intervenção de Diovvani Mendonça eu Fernando Januário fizemos uma participação relâmpago na 1º Bienal do Livro no Expominas. Lá encontramos Wilmar Silva, Rogério Salgado, Sebastião Nunes, Makely Ka entre outras personas:





Setembro/2008
Certamente um mês atípico. Participei do Projeto "Terças Poéticas", no Palácio das Artes - BH, com os poetas Leonardo de Magalhaens e Rodrigo Starling. Também lancei o livro de poemas "Primeirapessoaplural", o primeiro do selo "Árvore dos Poemas". E no dia 28 aconteceu o 1º Viva Poesia Poesia Viva em Contagem, mais uma peraltice do poeta Diovvani Mendonça. Oxalá!:
Vale conferir o blog literário do poeta Leonardo de Magalhaens :



Assim, sendo, não sendo, seguimos poemando, poemando...
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Alguns blogs que vale a pena visitar: