sexta-feira, 13 de junho de 2008

Odores e andanças

O andarilho levava a vida como muita gente desejava, ou seja, sem bússola. Ao saber que alguém escreveria umas poucas palavras sobre sua falta de rumo, aprontou uma correria . Parou numa rua de alho descascado. O cheiro era tão intenso que volvia o estômago de qualquer um. Dobrou a esquina e pimentas malaguetas forravam o asfalto , os postes e as paredes das casas. Coloquei uma ardida na boca e chorei e saltei e rolei e abanei a boca, aberta, com uma das mãos. Poderia ter me contentado com o cheiro, apenas. Daí ele entrou na rua de uvas paulistas . Menos mal, mas eram tantas as uvas que o cheiro me deixou bêbado. E assim fui seguindo o andarilho. Carambolas . Aquilo mais parecia uma feira aberta. Coentro. Figurativamente, ele vegetava por aí. Limões. Tanto mais eu me perdia. Melancias. Para fazer jus à rota do andarilho, subimos uma rua de carne bovina, descemos uma de carne suína seguimos retos por uma de galinhas, dobramos um de bacalhau e desembocamos numa de piranhas. A tour alimentícia parecia não ter fim . Estando eu decidido a escrever sobre a mudança das nuvens no céu, o andarilho me surpreendeu dizendo: Acho que agora você tem alguma inspiração para escrever sobre minha vida errante.



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